16 de abril de 2007

Família de Emília

Pai, mãe, irmãos, tios, parentes. Nenhuma família é diferente, ou tão diferente...
A família de Emília não fugia muito dos padrões, na verdade, a única diferença é que na família de Emília não havia muitas pessoas. Emília era filha única, morava apenas com a mãe e tinha tudo o que queria ter.
O quarto de Emília era lindo – o resto da casa também – mas o quarto era perfeito. Todo cor-de-rosa com flores vermelhas pintadas nas paredes, ursos de pelúcia por todos os cantos, cama confortável, podia-se tropeçar nos mais variados tipos de brinquedos, as bonecas eram mais lindas que princesas de verdade, cortinas brancas com frou-frous, era tudo uma beleza só.
Todas as noites, Emília saía de seu conforto e ia para a casa da avó para que a mãe pudesse trabalhar. Emília não gostava nenhum pouco da avó, velha marrenta que vivia lhe dizendo palavrões e fazendo desaforos. Gostava menos ainda da casa caindo aos pedaços onde a avó morava. Detestava. Mas, mesmo tendo apenas 5 anos e meio de idade, Emília se conformava e entendia que era assim que tinha que ser.
Emília não sabia direito em que a mãe trabalhava mas sabia que era um ótimo emprego e que dava um ótimo salário – sabia com sabedoria de criança que nada entende de dinheiro.
Mesmo sem saber exatamente do que se tratava, a menina gostava mais ainda do emprego da mãe porque era permitido que passassem juntas o dia todo.
Emília gostava muito de ver a mãe se preparando para ir trabalhar mas ficava um pouco triste em saber que em alguns instantes teria de voltar para a casa da detestável avó que só sabia brigar. “Melhor do que ficar sozinha” – pensava para não reclamar durante o trajeto.
A mãe de Emília usava maquiagem forte e bonita, vestia roupas elegantes nas quais, se fizessem um pouco de esforço, era possível ver claramente o torneado das coxas e o colo. Era linda. Emília a achava cada vez mais linda pois qualquer coisa lhe caía bem. A mãe era perfeita, estava sempre exuberante. Emília queria ser como a mãe quando crescesse.
Alguns anos depois, Emília passou a entender melhor de algumas coisas e a estranhar tal profissão sem nome, os trajes, os desaforos da avó, os comentários dos colegas na escola, o desprezo da professora, sentiu falta de um pai e resolveu que não queria mais ser como a mãe. Começou a achar tudo muito feio e, não demorou muito, Emília descobriu que o que a avó falava quase todos os dias era verdade.
Emília era uma filha da puta.

2 comentários:

Unknown disse...

Todos temos um pouco de filho de puta correndo em nós.

Anônimo disse...

já tinha dado pra entender... não precisava falar assim dela :(