Hoje pela manhã fui ao ginecologista. Este era um homem com
mais de 30 anos, branco e de pouquíssimo assunto. Fui extremamente mal atendida
mas mais adiante conto como foi. Cheguei em casa, fiz um chá pra me acalmar e
acalmar a dor que senti do procedimento de açougue ao qual fui submetida pelo
médico ao passar pelo exame preventivo, famoso “Papa Nicolau”. Fiz também uma
postagem no Facebook dizendo que deveria ser proibido homem ser ginecologista.
Bem, sem novidade, choveu repressão masculina (e algumas
femininas) nos comentários. Infeliz, extremista, fascista, quero ver quando for
emergência, antidemocrática, pesado... tudo isso e mais por vir. Ok, todo mundo
tem direito de se manifestar, postagem pública, tá tudo certo. Do alto do poder
da masculinidade, vários homens vieram me falar sobre o quanto eu estava sendo
radical em não gostar que o meu corpo por vezes passe por cuidados masculinos.
Triste realidade. Mais uma vez homens querendo deter nosso parco poder de
decisão. Eu prefiro mesmo que uma mulher cuide de mim e conheço muitas mulheres
que também preferem.
Depois, avaliando vários argumentos, lendo um pouco e matando a curiosidade, percebi que talvez o problema não seja mesmo a ginecologia estar sob os cuidados masculinos mas sim a medicina como um todo ter sido feita, criada e planejada a partir do ponto de vista do homem e, é claro, os homens não saberem e não enxergarem isso.
Depois, avaliando vários argumentos, lendo um pouco e matando a curiosidade, percebi que talvez o problema não seja mesmo a ginecologia estar sob os cuidados masculinos mas sim a medicina como um todo ter sido feita, criada e planejada a partir do ponto de vista do homem e, é claro, os homens não saberem e não enxergarem isso.
Coisas que você, homem, talvez ainda não saiba sobre
procedimentos ginecológicos:
Primeiro de tudo é importante deixar limpo que todo e
qualquer procedimento ginecológico é extremamente INVASIVO. Desde a pressão
psicológica que os médicos e médicas fazem para que tomemos pílula anticoncepcional,
por exemplo, até os nossos exames corriqueiros como o “Papa Nicolau” e outros
não muito comuns como trans e intravaginal. Olha só, se você não entendeu vou
dar um exemplo bem legal.
Sabe aquelas piadinhas que vocês homens fazem sobre o exame da próstata? Que vários homens se recusam a fazer pra ninguém enfiar o dedo no cu deles e muitos inclusive morrem por conta desse preconceito/machismo? Pois é. Todo homem, antes de realmente precisar passar por um exame de toque, agora pode fazer apenas um exame de sangue e é este exame que vai dizer se precisam fuçar no seu rabo ou não. Legal né?
Sabe aquelas piadinhas que vocês homens fazem sobre o exame da próstata? Que vários homens se recusam a fazer pra ninguém enfiar o dedo no cu deles e muitos inclusive morrem por conta desse preconceito/machismo? Pois é. Todo homem, antes de realmente precisar passar por um exame de toque, agora pode fazer apenas um exame de sangue e é este exame que vai dizer se precisam fuçar no seu rabo ou não. Legal né?
Esse tipo de “avanço medicinal” não acontece para a saúde das
mulheres com tanta frequência. Até hoje, para detectar possíveis dsts,
problemas com fertilidade, medição do tamanho do útero, introduzem objetos de
aço inox (que um dia já foram de ferro), câmeras e objetos para raspagem nas
nossas vaginas. Um exame Papa Nicolau – que qualquer mulher faz pelo menos 2
vezes ao ano – nada mais é do que a coleta da raspagem de um pedacinho de pele
do colo do útero da mulher. Sim, eles RASPAM e tiram um pedacinho pra por num
pote. Dá até um arrepio, né? Várias vezes o/a ginecologista “erra a mão” e
SANGRA, podendo causar feridas e, em casos extremos, perfurações e isso pode
acarretar em hemorragia e infertilidade. Pergunta pras minas que você conhece
se elas acham bacana ir ao médico toda vez com essa insegurança.
Aí moram as diferenças e os privilégios. Muitos homens se
recusaram a fazer o exame de próstata porque é um exame invasivo? Ok, criamos
um jeito de detectar pelo sangue. Quando as mulheres deixam de ir ao
ginecologista por sofrerem abuso, estupro ou serem vitimas de erro médico, quando alguém fica sabendo, muitas vezes apenas o médico em questão recebe uma advertência e
tudo passa, ninguém pensa na melhoria e no conforto nosso. Isso quando a gente não
é taxada de louca varrida porque resolveu reclamar.
Você, homem, tem noção de quantas mulheres simplesmente abandonam a frequência anual no ginecologista e deixam de cuidar da saúde por simplesmente não serem bem atendidas? Ou quantas mulheres procuram exaustivamente por atendimentos com médicas mulheres e acabam pagando particular (ou deixando de lado) porque o posto de saúde próximo não oferece uma ginecologista mulher? Acho que não né?
Você, homem, tem noção de quantas mulheres simplesmente abandonam a frequência anual no ginecologista e deixam de cuidar da saúde por simplesmente não serem bem atendidas? Ou quantas mulheres procuram exaustivamente por atendimentos com médicas mulheres e acabam pagando particular (ou deixando de lado) porque o posto de saúde próximo não oferece uma ginecologista mulher? Acho que não né?
Eu não queria nem entrar no mérito do abuso e estupro porque
realmente não foi o meu caso, mas merece espaço pois, chegaram a me dizer hoje que desvios de conduta podem acontecer
em qualquer profissão. NÃO!!! ELES NÃO PODEM ACONTECER NUNCA! A gente tem que
parar de naturalizar os erros e a violência, sobretudo dos homens, que os cometem mais e mesmo assim saem
impunes em muitas situações.
A maioria dos motivos pelos quais as mulheres evitam se consultar, não só no ginecologista mas em qualquer área, com homens é justamente pelo medo do abuso. MEDO DE ABUSO. Já pensou? Você está na salinha da recepção com MEDO de que a pessoa que estudou 8 anos pra te atender te violente de alguma forma. Leia-se violência não só como uma agressão física mas sim como uma apalpada indevida, uma cantada (ou “elogio” desnecessário), uma pergunta mal intencionada e também não só no sentido sexual mas existem as violências como a que eu sofri hoje, por exemplo, de uma coleta de preventivo extremamente grosseira, dolorida e que me fez sangrar muito... a ponto do próprio médico, tentando não demonstrar aflição, perguntar se eu não estava menstruando. A violência esteve para mim hoje no “perguntei só porque preciso anotar isso no prontuário, não quero saber seu histórico” quando comecei a contar sobre alguns ocorridos que considerava importantes em uma consulta ginecológica. A violência está para várias mulheres dessa e de outras tantas formas em consultórios ginecológicos....E ainda nem vou falar sobre obstetria, sobre abuso de poder, sobre cirurgia mal feita... vixi!
A maioria dos motivos pelos quais as mulheres evitam se consultar, não só no ginecologista mas em qualquer área, com homens é justamente pelo medo do abuso. MEDO DE ABUSO. Já pensou? Você está na salinha da recepção com MEDO de que a pessoa que estudou 8 anos pra te atender te violente de alguma forma. Leia-se violência não só como uma agressão física mas sim como uma apalpada indevida, uma cantada (ou “elogio” desnecessário), uma pergunta mal intencionada e também não só no sentido sexual mas existem as violências como a que eu sofri hoje, por exemplo, de uma coleta de preventivo extremamente grosseira, dolorida e que me fez sangrar muito... a ponto do próprio médico, tentando não demonstrar aflição, perguntar se eu não estava menstruando. A violência esteve para mim hoje no “perguntei só porque preciso anotar isso no prontuário, não quero saber seu histórico” quando comecei a contar sobre alguns ocorridos que considerava importantes em uma consulta ginecológica. A violência está para várias mulheres dessa e de outras tantas formas em consultórios ginecológicos....E ainda nem vou falar sobre obstetria, sobre abuso de poder, sobre cirurgia mal feita... vixi!
Eu compreendo que essas coisas variam de profissional pra
profissional e que existe mesmo muito homem ginecologista bom e do bem. Hoje
poderia ter acontecido tudo isso com uma médica mulher, eu sei. Sou super a
favor de que se o cara percebe que a saúde da mulher é a sua vocação, tem que
ir em frente mesmo, estudar, pesquisar, atuar com louvor. Mas é difícil...
sendo mulher e paciente, é tão difícil acreditar nisso. Outro dia mesmo saiu um
bafão sobre estudantes de medicina que fizeram uma foto muito infeliz de calças
arriadas e tags horrendas. Olha a que ponto chega... vocês
realmente acham que é radical demais não querer estar sobre os cuidados desses
caras??? É extremista? É lamentável? Não aceito o “era só uma brincadeira” como
resposta porque com saúde e com violência não se brinca.
Eu gostaria muito que os homens que me atiraram pedras pela
minha manifestação compreendessem todo o pano de fundo da minha afirmação. Não é
questão de homem melhor que mulher, mulher melhor que homem, não estamos mais
na 4ª série. As questões de gênero nos cuidados medicinais devem ser abordados
na própria graduação porque ainda não são. Pessoas com falta de sensibilidade não deveriam se formar
médicas, e, queiram ou não, infelizmente, a falta de sensibilidade paira, pela
cultura machista, muito mais sobre os homens do que sobre as mulheres (“aaah
mas eu conheço um cara que é super sensível...” eu também, mas eles são exceção).
Eu gostaria muito que os homens que me atiraram pedras, em vez de estarem ajudando outro homem a me violentar, perguntassem como eu estou, se preciso de ajuda, que me indicassem algum médico melhor, perguntassem a outras mulheres a respeito do tema, conversassem com seus amigos homens. Mas claro que é querer demais, isso não faz parte da cultura machista. O único cara que veio inbox me perguntar sobre o que estava rolando e se eu estava bem foi o pai de uma menina que está tentando colocar um ginecologista na justiça por abuso. Todos os outros aproveitaram do post pra enaltecer seus egos e bradar o quanto me posicionei radicalmente, cometendo um pecado, usaram do próprio feminismo para dizer que eu estava errada. E é por esse tipo de repúdio e resposta masculina que mais e mais mulheres tem se negado a frequentar um consultório médico de um homem e tem participado e promovido convivências terapêuticas com outras mulheres, como os círculos de mulheres, de sagrados femininos, discussão sobre terapias alternativas que valorizem a sensibilidade e intuição feminina. Sério, homens, se vocês não reverem o modo como dão chilique ao se deparar com uma postagem de facebook, vai ser cada vez mais cada gênero pro seu lado e isso não é interessante pra ninguém.
Isso só me faz perceber, por fim, que o feminismo precisa ir muito adiante ainda pra gente conseguir se unir de verdade e alcançar o mínimo, que é a compreensão, irmandade e o respeito.
Eu gostaria muito que os homens que me atiraram pedras, em vez de estarem ajudando outro homem a me violentar, perguntassem como eu estou, se preciso de ajuda, que me indicassem algum médico melhor, perguntassem a outras mulheres a respeito do tema, conversassem com seus amigos homens. Mas claro que é querer demais, isso não faz parte da cultura machista. O único cara que veio inbox me perguntar sobre o que estava rolando e se eu estava bem foi o pai de uma menina que está tentando colocar um ginecologista na justiça por abuso. Todos os outros aproveitaram do post pra enaltecer seus egos e bradar o quanto me posicionei radicalmente, cometendo um pecado, usaram do próprio feminismo para dizer que eu estava errada. E é por esse tipo de repúdio e resposta masculina que mais e mais mulheres tem se negado a frequentar um consultório médico de um homem e tem participado e promovido convivências terapêuticas com outras mulheres, como os círculos de mulheres, de sagrados femininos, discussão sobre terapias alternativas que valorizem a sensibilidade e intuição feminina. Sério, homens, se vocês não reverem o modo como dão chilique ao se deparar com uma postagem de facebook, vai ser cada vez mais cada gênero pro seu lado e isso não é interessante pra ninguém.
Isso só me faz perceber, por fim, que o feminismo precisa ir muito adiante ainda pra gente conseguir se unir de verdade e alcançar o mínimo, que é a compreensão, irmandade e o respeito.
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