14 de março de 2017

Roda de Responsa


A roda tem a função de ser sempre agregadora. Mesmo sendo um formato fechado, há sempre espaço para a curiosidade de quem passa, para as palmas de quem se anima, para a compreensão de quem assiste.

Qualquer um pode entrar na roda, qualquer um mesmo. Inclusive – e principalmente – aqueles que são inexistentes aos olhares da sociedade. Os mendigos, os bêbados, os moribundos, os cães e todo o povo das ruas, pois, se uma roda acontece na rua ou numa praça, acontece sim na casa destes. São os anfitriões das constantes festas que muitas vezes nem consentem, por isso a eles pedimos licença e permissão para rodar.
Numa ciranda nos olhamos todos e nos sabemos, nos ritmamos, nos firmamos juntos no importante ato de cantar.
Num jongo, numa roda de coco ou de capoeira, evocamos o jogo, a brincadeira. Quem vai ao centro carrega consigo a responsabilidade de mostrar a quem está de fora, que o brinquedo é pra todos e é necessário deixar o outro com vontade de brincar também... Porque é fácil, porque é bom!
Então o outro vem e tira, e compra o jogo já começado e assume assim a responsabilidade de instigar o outro a estar ali no seu lugar.
Trocar esse fluxo responsável é imprescindível. É um egoísmo muito grande querer estar sempre ao centro. A delícia de brincar é a partilha do brinquedo!!!
Responsável também é quem canta e quem conta. Quem puxa um ponto, um corrido, uma ladainha ou uma história, puxa pra junto de si a função de agregar, ensinando a resposta e o refrão, insinuando os fatos, improvisando, divertindo. Quem canta e conta nunca é triste, mesmo quando sua cantiga é um lamento, o sorriso acolhedor do cantador faz com que o lamento seja partilhado, amenizando a dor de quem sente, dando conforto e mostrando que a roda cura.
Numa roda trocamos energia pelas mãos, pelos pés e pelos olhos e o fluxo é intenso. O movimento faz toda a energia circular. Se temos sons, com tambores ou palmas, fortificamos a roda e a nós mesmos. Todos os nossos ciclos circulares, como somos uma roda d’água, ficam limpos, cristalinos e assim ficamos sempre mais aptos a lidar com o mundo, sabendo das voltas que a vida dá, nos equilibramos com ela e nos resolvemos como viventes. A vida flui dentro da roda!
Se te sentes inseguro, triste, sem vida e estiver andando por aí e encontrar uma roda, de qualquer coisa que seja, numa praça, não hesite em parar e entrar, pois com toda certeza ela te acolherá.


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