1 de março de 2017

O machismo é um choro entalado na garganta de um homem

O choro é uma das poucas manifestações de sentimento que não conseguiram nos tolher. O machismo não conseguiu, nunca, calar nosso pranto... Mesmo o mais baixinho, escondido pro travesseiro até o barracudo aos berros. Mulher ganhou fama de chorar por qualquer coisas e isso nunca foi uma vergonha pra gente... A gente chora mesmo, chora pra caramba! Chora de dor, chora de rir, chora de vergonha, de ódio, de felicidade. E o homem não. “Homem não chora”, “homem que é homem não chora”. Quase choro de dó de um ser que criou uma cultura tão auto-opressora e que agora não pode mais nem chorar. Já pensou quantos sentimentos não são expressos por conta de uma cultura absurda que é o machismo?? Você homem, já fez as contas de quantos choros engoliu no cinema, na frente dos seus pais, dos amigos, na escola, na rua, no trabalho (NA FRENTE DO SEU CHEFE)??
 Enquanto você engole o choro, a opressão engole você!
Quando eu era professora, percebia que nem os homens que ainda eram muito meninos eram poupados dessa besteira. Pais, mães, profes, todos reprimiam os meninos que choravam na escola. Menina ganhava abraço, carinho, menino ganhava cara feia e sermão: “Que feio, um HOMEM do seu tamanho chorando feito um bebezinho” (quando não era “chorando feito mulherzinha, menininha” e afins machistas). E isso tudo, eu noto, vai se refletindo em outras formas de se expressar. Conheço poucos caras que realmente gargalham, por exemplo. Qual é a necessidade machista de moldar homens insensíveis? Se reproduzir – a máxima biológica com a qual tentam justificar o machismo - que não deve (ou não deveria!) ser. Assim, nessa insensibilidade, indo pra lados mais extremos, surgem as violências. E neste quadro, quem é sensível é sempre “mais fraco”. Porque chora. Porque grita. Porque a forma de resistência sensível dificilmente vai ser responder a um ataque da mesma forma como ele veio. E o homem, ah esse fortão, que não chora, que não abaixa a cabeça pra nada, que não dança e não desenha flores, está lá com as lágrimas e as gargalhadas trancafiadas no nó da gravata apertando na garganta. Pra fora, só murros e pontapés porque é assim que um homem de verdade se expressa. Será?
Quando digo que um homem, qualquer um, deveria chorar mais eu não quero só que ele lembre da morte trágica do cachorro, da conta bancária negativa, do chute na bunda. Quando digo que um homem deveria chorar mais e melhor, eu falo sobre chorar diante de uma pintura no museu sem medo de “parecer bixinha” porque é sensível à arte (aliás, eu nunca entendi o medo que boa parte dos homens hetero tem de “parecer” qualquer coisa como se precisassem o tempo todo justificar ao mundo o que são e o que não são). Eu falo de escutar aquela música que lembra uma viagem e desandar com isso. De ver fotografia e chorar. De ver filme e chorar. De ver desenho e chorar. Ver novela e chorar. De pegar os cadernos da oitava série e ver que tá lá uma tag do cara que era seu melhor amigo e você nem sabe que fim levou. Eu falo de encontrar esse cara e chorarem juntos esse encontro.

Chore e eduque os meninos mais próximos de que pode chorar sim, principalmente de emoção, o choro é livre! E não oprima o choro alheio. Quem chora quer abraço e não cara feia, seja abraço de conforto ou de comemoração, permita que partilhem o choro contigo, chore junto, experimente se compadecer também. Sem essa frescura de “homem não chora”, sem medo, sem machismo pra cima do seu próprio choro, do seu próprio riso, da sua própria emoção, na moral mano, chore mesmo.

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