22 de fevereiro de 2017

Ilusão x Realidade

Andei me questionando sobre a ilusão e a realidade.
 Os Sutras, os Vedas e a Bíblia nos alertam para tempos difíceis e cheios de ilusão...  e o mais “novo” desses livros já tem pra lá dos seus dois mil anos. O que quero dizer é que as religiões estão alertando (e algumas iludindo ao mesmo tempo) há milênios. Há milênios estamos sob o véu de mãyã. Qual será a parte dos recados que não entendemos?
No Budismo, no Hinduismo e provavelmente em várias outras crenças que não conheço direito, existe o conceito de (anithia) que tudo o que não é divino é passageiro, é ilusão, faz parte do mundo material, são projeções, enfim, irreal. A partir disso, procuro a verdade e tento me ligar apenas com coisas que creio que são divinas. A natureza, a terra, o ar, a água, o fogo, a meditação, o autoconhecimento, a alimentação livre de morte e sofrimento alheio, a bondade, a generosidade e o amor. Tento não pensar/falar mal das pessoas e das coisas (exercício foda!), não me estressar e compreender, não me intoxicar, não ser tóxica... TENTO ser o mais próximo das Divindades o possível. E aí busco um estilo de vida que realmente me aproxime do/a Divino/a e descubra meus olhos do véu de maya.
Mas, ou Maya é incrivelmente disfarçada de realidade ou esse conceito de ser real apenas o que é Divino está esquisito... ou eu que não entendi nada mesmo. Porque o que é a ilusão? Ás vezes eu penso que ilusão é esse mundo vegano-meditativo-ecolindo-espiritual-feminista-de-esquerda que eu criei pra mim e no qual encontro muitas pessoas e juntos formamos uma grande bolha feliz. Como é que eu vou acreditar que isso que eu vivo é se aproximar da verdade absoluta se a vizinha vem me contar que decapitaram um homem e deixaram sua cabeça exposta pendurada em uma árvore?  Se eu leio o jornal e fico com a sensação de que dentro de cada ser humano habita uma capacidade incrível de cometer atrocidades?
Às vezes assisto a uns filmes, principalmente produções brasileiras dos anos 90, que fico pensando que a maioria deles é baseada em alguma realidade (ou em alguma ilusão, sei lá) e que são extremamente pesados, tratando de violências múltiplas, do quanto a gente (humano) é absurdo e nojento. Mas é ilusão. Anithia anithia anithia, disse Buda assim, 3 vezes mesmo, pra provar e comprovar que é tudo passageiro.
Estamos em Kali Yuga, a era das desavenças e do descontrole. Essa é a realidade ou a ilusão?  O caos se instaura a cada segundo nas sociedades... parece que estamos sempre prestes a explodir. Daí me sinto egoísta pra caramba por não querer fazer parte disso e, de verdade, eu me isolo mesmo, não sei outra coisa a fazer! Me entristece profundamente a realidade/ilusão atual.  Vejo vários monges, freiras e yogis fazendo sacrifícios verdadeiros pra que as coisas melhorem. Eles falam em paz no mundo, fim da violência e da desigualdade, cessam a própria alimentação, os movimentos, seus músculos se atrofiam. Vejo muitos grupos de pessoas politizadas se mobilizando, indo às ruas, pedindo intervenção do estado pra que de alguma forma a vida em comum melhore, em qualquer sentido. E,agora  sendo nada divina e bem pessimista, não vejo nada disso dando muito muito certo... parece que Kali não se comove! Quando se consegue algo com muito custo, ainda é pouco, não é o suficiente para que o sofrimento do mundo se acabe de vez (porque sofrer é a sina do ser humano). Será que só vamos ascender prum mundo melhor quando todos os 7 bilhões de viventes dessa Terra sentarem-se em lótus e entoarem Om com a pureza de seus corações? Ou vamos continuar assim e esperar que Jesus volte pra bater o “31-salva todo mundo”? Quantas cabeças mais serão penduradas em árvores? Quantos animais ainda serão colocados pro abate? Quantas mulheres ainda precisarão andar com medo por aí? Quantas guerras por petróleo ou por crença? Quantos muros ainda serão erguidos? Quantos hectares ainda serão desmatados? Quantas vidas? Quantos sacrifícios? Quantos sacrifícios???
Eu disse antes que parece que temos uma capacidade incrível de cometer atrocidades ,mas temos também uma capacidade mais incrível ainda de fazer coisas maravilhosas. Nós somos essencialmente bons, só precisamos alimentar esse viés. Nós pensamos! Não somos animais que agem 100% por instinto e que respondem agressividade com agressividade, amor com amor... nós temos o poder de converter o mau em bom agindo em bondade e benfeitoria. Não quero que esse texto tome forma de bla-bla-bla apelativo emocional, tampouco chegar a uma conclusão do que é o certo a se fazer -  até porque os livros que citei lá no comecinho, com alguma margem de erro,  já deram essa deixa aí pra gente faz tempão - mas sinto a necessidade de terminar isso de um jeito confortável. Os cristão dizem que devemos amar a Deus sobre todas as coisas, alguns Budistas dizem que devemos nos conectar com os Seres para nos afastar do sofrimento, os Vaishnavas dizem que temos que compreender Krishna e desfrutar Dele, os Candomblecistas dizem que devemos ser obedientes as ordens que vem do Orun... Apesar de várias diferenças e divergências entre as crenças, todos dizem que devemos carregar uma divindade junto conosco e parece que a única coisa que  tá faltando é “Deus no coração”. Pode ser que possamos mudar de realidade ou sair da ilusão de um jeito bem mais simples do que se imagina.



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