Andei me questionando sobre a ilusão e a realidade.
Os Sutras, os Vedas e
a Bíblia nos alertam para tempos difíceis e cheios de ilusão... e o mais “novo” desses livros já tem pra lá
dos seus dois mil anos. O que quero dizer é que as religiões estão alertando (e
algumas iludindo ao mesmo tempo) há milênios. Há milênios estamos sob o véu de
mãyã. Qual será a parte dos recados que não entendemos?
No Budismo, no Hinduismo e provavelmente em várias outras
crenças que não conheço direito, existe o conceito de (anithia) que tudo o que
não é divino é passageiro, é ilusão, faz parte do mundo material, são
projeções, enfim, irreal. A partir disso, procuro a verdade e tento me ligar apenas
com coisas que creio que são divinas. A natureza, a terra, o ar, a água, o
fogo, a meditação, o autoconhecimento, a alimentação livre de morte e
sofrimento alheio, a bondade, a generosidade e o amor. Tento não pensar/falar mal
das pessoas e das coisas (exercício foda!), não me estressar e compreender, não
me intoxicar, não ser tóxica... TENTO ser o mais próximo das Divindades o
possível. E aí busco um estilo de vida que realmente me aproxime do/a Divino/a
e descubra meus olhos do véu de maya.
Mas, ou Maya é incrivelmente disfarçada de realidade ou esse
conceito de ser real apenas o que é Divino está esquisito... ou eu que não
entendi nada mesmo. Porque o que é a ilusão? Ás vezes eu penso que ilusão é
esse mundo vegano-meditativo-ecolindo-espiritual-feminista-de-esquerda que eu
criei pra mim e no qual encontro muitas pessoas e juntos formamos uma grande
bolha feliz. Como é que eu vou acreditar que isso que eu vivo é se aproximar da
verdade absoluta se a vizinha vem me contar que decapitaram um homem e deixaram
sua cabeça exposta pendurada em uma árvore?
Se eu leio o jornal e fico com a sensação de que dentro de cada ser
humano habita uma capacidade incrível de cometer atrocidades?
Às vezes assisto a uns filmes, principalmente produções
brasileiras dos anos 90, que fico pensando que a maioria deles é baseada em
alguma realidade (ou em alguma ilusão, sei lá) e que são extremamente pesados,
tratando de violências múltiplas, do quanto a gente (humano) é absurdo e
nojento. Mas é ilusão. Anithia anithia anithia, disse Buda assim, 3 vezes
mesmo, pra provar e comprovar que é tudo passageiro.
Estamos em Kali Yuga, a era das desavenças e do descontrole.
Essa é a realidade ou a ilusão? O caos
se instaura a cada segundo nas sociedades... parece que estamos sempre prestes
a explodir. Daí me sinto egoísta pra caramba por não querer fazer parte disso
e, de verdade, eu me isolo mesmo, não sei outra coisa a fazer! Me entristece
profundamente a realidade/ilusão atual.
Vejo vários monges, freiras e yogis fazendo sacrifícios verdadeiros pra
que as coisas melhorem. Eles falam em paz no mundo, fim da violência e da
desigualdade, cessam a própria alimentação, os movimentos, seus músculos se
atrofiam. Vejo muitos grupos de pessoas politizadas se mobilizando, indo às
ruas, pedindo intervenção do estado pra que de alguma forma a vida em comum
melhore, em qualquer sentido. E,agora sendo nada divina e bem pessimista, não vejo
nada disso dando muito muito certo... parece que Kali não se comove! Quando se
consegue algo com muito custo, ainda é pouco, não é o suficiente para que o
sofrimento do mundo se acabe de vez (porque sofrer é a sina do ser humano).
Será que só vamos ascender prum mundo melhor quando todos os 7 bilhões de
viventes dessa Terra sentarem-se em lótus e entoarem Om com a pureza de seus
corações? Ou vamos continuar assim e esperar que Jesus volte pra bater o “31-salva
todo mundo”? Quantas cabeças mais serão penduradas em árvores? Quantos animais ainda
serão colocados pro abate? Quantas mulheres ainda precisarão andar com medo por
aí? Quantas guerras por petróleo ou por crença? Quantos muros ainda serão
erguidos? Quantos hectares ainda serão desmatados? Quantas vidas? Quantos
sacrifícios? Quantos sacrifícios???
Eu disse antes que parece que temos uma capacidade incrível
de cometer atrocidades ,mas temos também uma capacidade mais incrível ainda de
fazer coisas maravilhosas. Nós somos essencialmente bons, só precisamos
alimentar esse viés. Nós pensamos! Não somos animais que agem 100% por instinto
e que respondem agressividade com agressividade, amor com amor... nós temos o
poder de converter o mau em bom agindo em bondade e benfeitoria. Não quero que
esse texto tome forma de bla-bla-bla apelativo emocional, tampouco chegar a uma
conclusão do que é o certo a se fazer - até porque os livros que citei lá no comecinho,
com alguma margem de erro, já deram essa
deixa aí pra gente faz tempão - mas sinto a necessidade de terminar isso de um
jeito confortável. Os cristão dizem que devemos amar a Deus sobre todas as
coisas, alguns Budistas dizem que devemos nos conectar com os Seres para nos
afastar do sofrimento, os Vaishnavas dizem que temos que compreender Krishna e
desfrutar Dele, os Candomblecistas dizem que devemos ser obedientes as ordens
que vem do Orun... Apesar de várias diferenças e divergências entre as crenças,
todos dizem que devemos carregar uma divindade junto conosco e parece que a
única coisa que tá faltando é “Deus no
coração”. Pode ser que possamos mudar de realidade ou sair da ilusão de um
jeito bem mais simples do que se imagina.
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