4 de março de 2012

Chinelo de Piche

O menino brinca na terra, nu, descalço, suja os pés suados, pés de lama. A pele torrada do sol, cozida do sal da água que lhe escorre a testa queimada de luz. Come uma minhoca lustrosa, limpa a mão na barriga, uma gota marrom escorre.

O asfalto visto de longe é só fumaça, é vapor, é calor, é onde os meninos jogam bola sem camisa e o chinelo de borracha protege os pés da fervura cinza. A borracha que às vezes cola no chão, impede o cruzamento, fica difícil fazer gol.

A árvore seca não faz sombra, frita. A menina tenta um galho mais grosso, mais cheio de idéia para escrever poesia, acomoda-se, mas a inspiração escorre por seu cabelo sujo, ela vira folha e a poesia vira orvalho, o sol não deixa ninguém pensar.

O pandeiro dá o tom no boteco da esquina. Os copos estralam amarelos e congelantes, a polaca escorre vermelha, a mulata brilhante ri e exibe os dentes brancos, o riso solto.
Garrafa vai vazia, vem cheia, suada, gelada, trazendo o alívio líquido, acaba num instante, vai vazia, volta melhor ainda.

O sol se põe como um ovo fritando no piche, pernilongos e aleluias invadem as casas, as luzes, as pernas das crianças e as juntas das mulheres. Ventilador, lençol, janela aberta e o perigo correndo solto nas ruas esfriadas.

É noite, é madrugada... e faz um calor dos infernos!

5 comentários:

Tupinanquim disse...

visual e à flor da pele! teorias dizem q fritar neurônios (com o calor do sol, não me entenda mal) é bom pra criatividade. me lembrei de uma matéria q o Paulão Fardadão linkou num grupo de quadrinho no face, olha lá: http://caminhoalternativo.wordpress.com/2012/02/02/cientista-alemao-dieter-broers-afirma-que-as-tempestades-solares-podem-salvar-a-humanidade/
Eu curti! abração!

Twigy disse...

É calorduzinferno, mas a garrafa vai vazia e volta melhor ainda... Salve salve Ameluzita, ballerina e escrivinhadora. A mi me gustou mucho este texto. Beijinhos!

Giovani Iemini disse...

e...

Melu :) disse...

e...
O menino brinca na terra, nu, descalço, suja os pés suados, pés de lama. A pele torrada do sol, cozida do sal da água que lhe escorre a testa queimada de luz. Come uma minhoca lustrosa, limpa a mão na barriga, uma gota marrom escorre.

O asfalto visto de longe é só fumaça, é vapor, é calor, é onde os meninos jogam bola sem camisa e o chinelo de borracha protege os pés da fervura cinza. A borracha que às vezes cola no chão, impede o cruzamento, fica difícil fazer gol.

A árvore seca não faz sombra, frita. A menina tenta um galho mais grosso, mais cheio de idéia para escrever poesia, acomoda-se, mas a inspiração escorre por seu cabelo sujo, ela vira folha e a poesia vira orvalho, o sol não deixa ninguém pensar.

O pandeiro dá o tom no boteco da esquina. Os copos estralam amarelos e congelantes, a polaca escorre vermelha, a mulata brilhante ri e exibe os dentes brancos, o riso solto.
Garrafa vai vazia, vem cheia, suada, gelada, trazendo o alívio líquido, acaba num instante, vai vazia, volta melhor ainda.

O sol se põe como um ovo fritando no piche, pernilongos e aleluias invadem as casas, as luzes, as pernas das crianças e as juntas das mulheres. Ventilador, lençol, janela aberta e o perigo correndo solto nas ruas esfriadas.

É noite, é madrugada... e faz um calor dos infernos!

Anônimo disse...

na madrugada longa
a garrafa vazia,
um calor do inferno.