16 de novembro de 2006

Dona Luzia, Dona de Quem?

Dona Luzia, triste e um tanto envergonhada. Uma vizinha que eu tinha antes de vir pra cá.
Dona Luzia escondia-se num avental e passava horas varrendo a calçada da frente. Acredito que era na intenção de saber o que acontecia na rua, principalmente na construção do outro lado. Até parecia, às vezes, açanhar-se pra cima dos fortões que batiam massa e passavam as tardes todas empilhando tijolos debaixo do sol quente.
Velhota, pequena, de cabelos prateados, lisinhos e compridos, presos num elá¡stico que teimava em deslizar pelos fios de vez enquando, fazendo com que ela encostasse a vassoura e prendesse os cabelos novamente, só que dum jeito cada vez mais desleixado.
Desafinadí­ssima a velha! Adorava cantarolar as cantigas do seu tempo de moça enquanto arrastava calmamente a vassoura na calçada... Entrava, fazia que esquecia, e lá estava ela outra vez; varrendo só pra ver.
Dona Luzia sofria, eu sei que sofria. Em toda tarde vazia, a solidão lhe invadia de uma forma que a deixava totalmente seca. Vazia como a tarde.
Dona Luzia, dona de luz e calmaria, já não tinha mais nada, nada sobrava.
Dona Luzia, dona de quem?
Dona Luzia ficava triste por saber que a tarde caí­a e não tinha ninguém.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc gosta de ter oito anos mas faz dezesseis que obsrva o ser humanso. Eu até conheço esta luzia