30 de agosto de 2017

Não desestimule suas irmãs

o mundo patriarcal sempre nos deixou claro a nossa falta de capacidade em executar N coisas.
Crescemos acreditando que nunca seriamos boas o suficiente para várias tarefas, sobretudo as que já são culturalmente tidas como masculinas. De forma muito lenta a gente ganha espaço nesse mundo, de forma muito lenta a gente bota a cara no sol e mostra que não veio só pra zelar mas que a gente também consegue dirigir, gerenciar, construir uma casa, tocar tambor.
Mas somos tão desacostumadas ainda com a ocupação feminina em espaços culturalmente masculinos que, algumas vezes acabamos reproduzindo alguns discursos machistas e, com isso, tendo uma abordagem broxante para com as nossas irmãs.
Somos tão naturalizadas com o fato de só vermos homens fazendo determinadas funções que, quando alguma amiga demonstra vontade em fazer também, logo vem um caminhão de questionamentos e frases desemponderadoras do tipo "mas é muita responsabilidade!!!", "será que você vai dar conta?", "você tem preparo suficiente pra isso?". Coisas que, muito provavelmente, não perguntariamos aos homens.
Manas, cuidado com essa reprodução! Já temos uma cultura inteira instituída há séculos para nos questionar dessa maneira. Quando uma amiga sua diz que quer tentar algo novo, apoie, estimule, ajude e compreenda. Fazer questionamentos negativos em relação a sua capacidade para a coisa só afirma que mulher não pode/não deveria. Com certeza pra ela chegar a ousar de tal forma, ela já passou pela prova de fogo desses questionamentos mentais porque ela, também mulher, já está habituada com o caminhão de cobranças que bate nas ideias antes de tomar qualquer iniciativa. Ela, também mulher, não foi ensinada a tomar iniciativas e sim a acatar as iniciativas alheias.
Quando uma mulher se enche de coragem para fazer algo, apoie e acredite porque ela te representa!
E se no fim das contas não der certo, não aponte dizendo que ela não estava preparada o suficiente ou que não era capaz. Abrace-a porque qualquer uma que resolve tomar a frente de um projeto está sujeita ao erro e recomeço. Ajude-a.
Ultimamente quando esbarramos nos muros de homens tentando nos por pra baixo, já não ligamos mais, pulamos esses muros e continuamos em frente.... Agora o muro da mulher machista é maior e mais difícil de subir. Porque é inconsciente. A mulher que não apoia a outra na subida, acaba sendo uma dificuldade. A mulher que questiona a outra negativamente, reproduzindo o discurso de incapacidade, consegue fazer a outra voltar atrás e simplesmente parar, e não querer fazer mais porque talvez não seja tão boa assim ainda, talvez seja melhor dar mais um tempo, talvez seja melhor aprender direito com um cara que dê credibilidade.
Só que nós não temos mais esse tempo pro talvez. Nós precisamos agir e ocupar nossos espaços. Na política, na obra, em casa, na música.
Sei que muitas vezes apenas questionamos a capacidade uma das outras por cuidado, porque queremos alertar sobre os perigos e dificuldades... Mas, vai dizer que já não estamos alertas o suficiente? Olha pra história da nossa luta, da nossa causa se já não tem calo o suficiente nesses nossos corpos?!
A cobrança e expectativa social já é grande que não dá mais pra gente reproduzir isso entre a gente mesma, entre as irmãs.
Quando uma mulher se sente preparada para algo a ponto de conseguir comunicar essa vontade, abrace-a e dê apoio incondicional, ajude no que te for possível. Os questionamentos, testes e provas da sua capacidade, deixe que a sociedade mesmo e a própria empreitada vão dizer.

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