23 de junho de 2010

O Enterro de André Manoel

André Manoel, no dia 20 de novembro deste ano, aos 25 anos, morreu.
A causa da morte foi suicídio, a causa do suicídio ninguém sabe.
No enterro, poucas pessoas. Nenhuma chorava, o choque era tanto que não permitia lágrimas.
- Mas também – discursava a mãe – já estava bem em tempo d’ele tomar uma providência dessas! Era novo e já com os cabelos brancos de tanta amargura... Antes tivesse nascido cão que leva a vida conformado, ou gato que logo aprende a se dar bem. Mas não, foi nascer menino... Menino que entende a ruindade do mundo... E foi crescer e ficar homem feito pra passar pela fase da revolta e perder o juízo! Antes tivesse nascido planta que não pensa... Antes nem tivesse nascido...
E no enterro ninguém se surpreenderia se dali alguns anos a mãe resolvesse que faria o mesmo que o filho. Porque agora os cabelos brancos cresceriam de tanta amargura. E a velhice chega para nos obrigar a entender a ruindade do mundo.
A mãe pensava por que ela e o filho foram nascer justo gente.
- Justo gente que gosta de pensar, de refletir, de imaginar. Justo gente que sofre mais, que sofre só de pensar no sofrimento! – E arrependia-se de ter entrado na fila de ser gente quando antes de nascer. Antes tivesse nascido planta ou nem tivesse nascido.
O caixão descia e a mãe silenciava.
Tão pouca diferença fez o filho em vida e agora em morte que, pensando bem, não devia mesmo nem ter nascido.

4 comentários:

BANDO DA LEITURA disse...

tem gente que vive pior que planta mesmo, ninguém molha, ninguèm olha, ninguém colhe e ninguém come!esses um dia murcham e morrem! credo!
belo texto Amelu, nem Augusto dos Anjos escreveria igual. ou escreveria?

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Oh, tamanha amargura
Felicidade
Se não a tinha
Faltou-lhe em caixinha
Augusto com prozac
Professor
Augusto sem prozac
Poeta
André com prozac
Amelu sem história.
(hahahhah, só para descontrair!!!)

Foste muito cuidadosa, Augusto seria grosseiro. Conseguis-te transmitir a amargura sem se utilizar de termos pesados como o poeta costumava empregar.

Edson disse...

Muito bons seus textos. Esse em especial. Você tinha me dito o contrário sábado... Não se pode mentir sobre essas coisas...