17 de setembro de 2008

A Felicidade do Horizonte

Marquinho era um nanico. Tinha um pouco mais de um metro de altura, coisa de milímetros. Ele nunca contava sua altura e saia correndo ao ver uma fita métrica pela frente.
Marquinho era um azarado. Nunca tinha visto uma mulher nua em trinta anos de sua pequena e insignificante existência.
Quando conseguia entrar em alguma festa, seus amigos sempre acabavam bêbados e muito bem acompanhados, só ele que não. Ele não bebia porque os garçons sempre pensavam que ele era menor de idade. Não pegava ninguém porque as mulheres sempre pensavam que ele era menor de idade... e até as meninas menores de idade gostam de “homens feitos”. Marquinho nunca foi um “homem feito”.
Nos tempos de colégio, as meninas diziam que Marquinho era um fofo, que era tão bonitinho pequenininho daquele jeito, parecia um chaveirinho. Mas ele não entendia o porquê quando ele se declarava para alguma delas, o resultado era um belo tapa de mão cheia no minúsculo rosto. Elas só queriam os grandalhões da oitava série.
Marquinho se perguntava o tempo todo porque tanta falta de tamanho lhe proporcionava tanta grandeza no azar.
Mas, é claro, vocês bem sabem, nem sempre a vida é tão ruim assim e não faz sentido eu deixar que o Marquinho tenha um fim muito cruel como ser atropelado por um cachorro de rua.
Um dia, no ponto de ônibus, Marquinho conheceu uma garota, a Angélica.
Angélica não parecia aquela apresentadora da tv. Era mulata, alta, bem torneada, a pele e os cabelos compridos brilhavam com a luz do sol.
Marquinho ficou encantado ao perceber que Angélica o percebia.
Marquinho, de seu baixo patamar de visão, via Angélica se aproximar. O coração palpitava tanto que o fazia dar pulinhos.
Ele não entendeu exatamente como tudo isso aconteceu. Entraram no ônibus, sentaram-se e conversaram muito, beijaram-se muito, fizeram o povo todo rir da cena bizarra. Quando Marquinho deu por si, estava em um quarto alaranjado, nu, em uma aconchegante cama, com o rosto enfiado em aconchegantes e fartos seios.
Quando Marquinho deu por si, caminhava em direção a uma forte luz que vinha sabe Deus de onde e que ficava cada vez mais perto. Entrou na luz e, a partir daí, nós que aqui ficamos nunca saberemos como acontece.
Quando Angélica deu por si, estava fazendo as honras de uma primeira e inesquecível vez de alguém que em trinta anos de insignificante existência, nunca havia sequer visto uma mulher nua.
Quando Angélica deu por si, estava fazendo as honras de uma última e inesquecível vez de alguém que em trinta anos de existência, nunca tinha sequer visto uma mulher nua.
Gritou e chorou feito uma criança que não ganha um playstation de natal.
Raiva por não ter chegado ao fim, pânico por matar alguém, felicidade por matar de alegria.

8 comentários:

Adrian Clarindo disse...

Sou meio Marquinho.

Marcell Camargo disse...

O marquinho eu conheço ... pegava bus comigo no oficinas !!!

Anônimo disse...

Se um dia eu morrer, que eu morra de alegria!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

cara! gostei do final da história!

...dentro d todo mundo tem (pelo menos)um marquinho...!

BANDO DA LEITURA disse...

todo homem por maior que seja tem um marquinho dentro dele que se chama sonho de encotrar uma angélica no ponto de ônibus.
E toda mulher tem uma angélica dentro dela para matar de amor um homem!

Danilo Kossoski disse...

Sim.
Não deveria se chamar "lixo eletrônico".
Gostei da leitura.

Angelica Elisa disse...

Angélica...