21 de dezembro de 2006

Quando Beatriz Acordou

Beatriz era chata,muito chata. Não gostava de coisas alegres, cantantes, brilhantes e que chamassem atenção. Não gostava do natal e era natal. Ela queria sumir.
Estava Beatriz passeando com seu belo cachorrinho poodle que ganhou do pai quando ouviu um gritinho agúdo vindo do chão. Olhou a procura do que tinha produzido tal som e viu que, bem pertinho do seu pé esquerdo tinha um bezouro vermelho de barriga pra cima com as perninhas tremendo.
- Você quase me mata, menina! - disse o bezouro se recompondo. - Lá de onde eu vim, todos costumam respeitar os seres de cores chamativas e minha cor é muito mais chamativa que a sua!
A curiosidade tomou conta de Beatriz. Dominou seu corpo e pensamento, entrou fundo em todos os seus sentidos. Beatriz precisava conhecer aquele lugar onde bezouros falam e são respeitados.
- Me leva pra lá?
O bezouro não titubeou em dizer que podia levar. Na verdade seus superiores o mandaram ficar na calçada aguardando quase ser pisoteado pelo sapatinho cor de vinho de Beatriz justamente na intensão de poder levá-la.
Beatriz talvez fosse especial. Não alí­ onde estava, no meio da rua, com um poodle chato, quase esmagando um bezouro vermelho, com sapatos cor de vinho. Não com aquela cara, com aquelas roupas, com aqueles modos. Em outro lugar, de jeito diferente, para outras pessoas, outras coisas...
Sensações estranhas durante a viagem. Por não ter avisado nada em casa ou por ter deixado o cachorro abandonado na rua. Sensações estranhas... voar era estranho.
Estranho era entrar naquele lugar onde vivia o bezouro vermelho, lugar azul e frio, sem nada do que Beatriz já tinha visto, sem nada de luz, sem nada de som, sem nada feliz.
Ela se sentia meio Dorothy ou Alice. Ela se sentia mal.
Daí­ então ela percebeu o quanto era bom estar no meio das luzes coloridas, de gargalhadas escandalozas, músicas chatas e coisas chamativas. E a saudade bateu e foi apertando pouco a pouco o corpo todo e a vontade de voltar fazia aparecer a vontade de gritar e, de repente, quando ouviu um grito, olhou pro lado e viu uma mulher chorando com cara de pânico.
- Tire esse cachorro daqui! Ele está fazendo xixi nas minhas pernas!!!!!
A rua, as luzes, a música, o poodle, as pessoas, a vida. Tudo igual como deve ser no natal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Comentei no outro blog.. mas repito aqui, preferi conhecer este!
______
"ela se sentia meio dorothy ou alice. ela se sentia mal."

Gostei do seu humor, menina!
Do humor e da Imprevisibilidade! Aprendi bastante =)