15 de setembro de 2013

Um Drama Míope

Eu, que gosto tanto das formas, estou fadada a enxergar apenas borrões de cores para o resto da vida... ou da vista.
Fui ao oftalmologista outro dia e, para meu espanto, minha miopia aumentou mais do que o esperado de um ano para outro. “Esta será a nova constância... até você completar uns 30 anos”, me disse o médico. A notícia me doeu mais na alma do que nos olhos. Apertou-me o desespero de chegar aos 30 praticamente sem enxergar coisa alguma, já que, hoje, tudo o que vejo sem a ajuda dos óculos são os vultos da matéria que realmente existe e do que invento para me confortar.
Durante a consulta, senti que o médico desistiu de me fazer enxergar as letras menores, pedindo para focar nas grandes. Me causou algum tipo de tristeza e desconforto. Eu realmente gostaria de enxergar as letras menores com a ajuda do aparelho, mas parecia que o aparelho não tinha lentes para mim. “Você não precisa enxergar tudo”, me disse. Não preciso? Quem este médico pensa que é para me dizer do que preciso ou não?
Vale lembrar que aos 15 anos, já míope, fui diagnosticada com transtorno bipolar e excessiva ansiosidade. Tomei remédios pra me curar do que hoje em dia eu chamo apenas de ‘sintomas do adolescente comum’ e de fato, amadureci, fiz todas as cognições necessárias durante a adolescência e, hoje, aos 22 anos posso me declarar parcialmente curada. Parcialmente, pois a tal da ansiosidade ainda me acompanha em alguns momentos, como neste em que descobri que cegarei. Sofro por antecipação e tendo a aumentar os problemas. Eu sei que não ficarei cega - não através da miopia, pelo menos – mas aquece meu lado dramático e minha veia mexicana pensar que sim. Portanto, descobri que aos 30 anos enxergarei tão mal, mas tão mal, que esse fato não poderá mais ser chamado de ‘enxergar’, terá outro nome que, por enquanto, proponho que seja ‘cegueira’.
Segundo os meus cálculos, o assustador salto de 2.5 para 3.5 no olho esquerdo e para 4 no direito, somados aos terríveis 2 graus de astigmatismo em cada olho, me colocam aos 30 anos com praticamente 10 graus de miopia mais 10 graus de astigmatismo em cada olho e eu nem parei para pesquisar se isso é humanamente possível!
Depois de refletir um pouco sobre a possibilidade de cegar e me conformar com a constante perca de forma das coisas, passei a dedicar alguns momentos do dia a miopia. Tiro os óculos e sou impressionista. Percebo as cores com mais cuidado e tudo passa a não ter contorno – como de fato não tem – e agora me faz todo o sentido o quanto penou um professor de História da Arte da faculdade para explicar à turma o quão ridículo é querer contornar as coisas na pintura. Porque a borda que a gente faz para diferenciar um objeto do outro simplesmente não existe.

E, agora, rumando para o fim da minha nitidez visual percebo aonde os borrões se encontram e se encaixam. Não há mesmo contorno, professor, o senhor estava certo! Sempre esteve! Não me admira nada o fato de ser professor... e míope. 

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